O impacto da biologia sintética
© M. ELLISMAN/NCMIR, UNIVERSITY OF CALIFORNIA, SAN DIEGO | ||
Imagem de microscopia eletrônica que mostra a bactéria com genoma sintético se replicando |
Uma verdadeira revolução científica ou grande feito tecnológico? Essa era a grande questão um dia após uma equipe do J. Craig Venter Institute, dos Estados Unidos, ter anunciado a criação do primeiro genoma totalmente sintético, composto de um milhão de unidades químicas (as bases A,T, C e G).
Criado em laboratório a partir de uma sequência química fornecida por um computador, o genoma foi transferido para a célula de uma bactéria (Mycoplasma mycoides), onde assumiu o lugar do DNA original do micróbio e passou a controlar toda a produção de proteínas e o processo de replicação do microrganismo.
O trabalho, que foi publicado online ontem no site da revista cientítica Science e obteve enorme repercussão nos meios de comunicação de todo o mundo, consumiu mais de uma década de pesquisa, recebeu investimentos da ordem de U$ 40 milhões e envolveu 20 cientistas.
Para o pai do genoma sintético, o ousado e polêmico cientista Craig Venter, o trabalho é um marco na biologia e vai abrir caminho para o desenho de micróbios úteis aos homem, capazes de, por exemplo, produzir vacinas e biocombustíveis.
"Trata-se de um avanço tanto filosófico como técnico", disse Venter, que, anos atrás, já havia se tornado famoso ao liderar um projeto privado de sequenciamento do genoma humano.
Na entrevista que deu para divulgar o trabalho, ele disse que a célula sintética da bactéria é "a primeira espécie que se autorreplica do planeta cujo pai é um computador".
O genoma criado em laboratório é quase igual ao DNA original da própria bactéria. Genes que não eram considerados essenciais para o micróbio foram descartados pelos cientistas em seu trabalho de montar um genoma sintético.
Pesquisadores não ligados à pesquisa desenvolvida por Venter se dividiram em relação à importância do DNA sintético que comanda a vida de uma bactéria.
Alguns teceram loas ao feito. Outros tentaram relativizá-lo. Esse foi o caso do Prêmio Nobel de Medicina de 1975, o americano David Baltimore, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).
"Para mim, Craig exagerou um pouco a importância do trabalho", disse Baltimore ao jornal The New York Times.
Ele acredita que a criação do genoma sintético foi mais um "tour de force técnico", uma questão de escala, do que uma descoberta científica revolucionária.
"Ele não criou vida, apenas a imitou". De qualquer forma, é inegável que o trabalho de Venter sinaliza um aumento da capacidade de o homem manipular o DNA de organismos.
Por tratar de um tema polêmico, capaz de criar novos dilemas morais, o artigo científico de Venter na Science levou ontem mesmo o presidente norte-americano Barack Obama a encomendar um estudo à comissão de bioética da Casa Branca, que terá seis meses para produzir um relatório sobre as implicações éticas da biologia sintética.
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