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quarta-feira, 11 de abril de 2012
Cinco cientistas brilhantes: quais foram suas descobertas?
Por Mayana Zatz
Acabo de chegar de Paris onde participei da 14a edição do prêmio L’Oréal/Unesco para mulheres na ciência. Ele foi instituído em 1998. Cinco cientistas, representando a África, Ásia, Europa, América Latina e América do Norte são agraciadas todos os anos. Trata-se de um reconhecimento internacional de excelência científica. De fato duas cientistas receberam o prêmio Nobel em seguida: a doutora Elizabeth Blackburn dos Estados Unidos por suas pesquisas em telômeros e telomerase ( já falei disso em colunas anteriores ) e doutora Ada Yonath de Israel por suas pesquisas em química.
Como é o processo seletivo?
Desde que fui agraciada com esse prêmio em 2001, tenho feito parte do júri que seleciona as próximas vencedoras. Confesso que a escolha nem sempre é fácil, mas para mim fazer parte desse júri tem sido uma experiência fantástica. O presidente fundador do júri é o professor Christian de Duve, prêmio Nobel de medicina, em 1974. É agora o presidente honorário. Aos 95 anos, ele mantém uma memória e lucidez impressionantes. Confesso que gostaria de ter genes como os dele. O presidente atual do júri, é o doutor Gunter Blobel, também prêmio Nobel de medicina, em 1999.
Além de cientistas excepcionais são também seres humanos fantásticos. Conversar com eles é um aprendizado constante. Os outros membros do júri, 17 ao todo, são cientistas representando os cinco continentes: mulheres, que foram premiadas em anos anteriores, mas também cientistas do sexo masculino. Afinal das contas, apesar do prêmio ter sido instituído para promover mulheres na ciência, não podemos discriminar os homens. Para concorrer, as cientistas precisam ter sido indicadas, por outros pesquisadores reconhecidos, sociedades científicas ou instituições acadêmicas. O critério para decidir leva em conta não só a excelência científica, mas também o impacto social das suas descobertas principalmente em caso de empate. No fim de setembro de 2011, escolhemos as cinco vencedoras de 2012. Não conhecia pessoalmente nenhuma delas. Só agora, na festa da premiação, um evento sempre marcante que reúne cerca de 2000 pessoas na sede da Unesco, em Paris, tive a chance de conhecê-las pessoalmente. Quem são essas finalistas?
Jill Margaret Farrant, foi a ganhadora da África e países árabes
Ela pesquisa plantas muito especiais, chamadas plantas da ressurreição (do inglês resurrection plants). Foram chamadas assim porque essas plantas possuem uma característica incrível. Conseguem resistir muito tempo em ambientes sem água. Suas folhas secam e você jura que estão mortas. Mas se tiverem contato com água, após 24 a 72 horas renascem e voltam a ficar verdes como se nada tivesse ocorrido. Para ilustrar suas experiências a doutora Farrant deu a cada um de nós um galinho seco. “Coloquem na água e vejam o que vai acontecer”, disse. Foi o que fizemos. Após 24 horas em um copinho de água lá estavam elas vivas e verdejantes. Pudemos comprovar de fato o renascimento fantástico dessas plantinhas. Fascinante. A pesquisa de Jill tem contribuído para entender quais são os genes e mecanismos responsáveis por esse renascimento que parece milagroso. O próximo passo será tentar, por técnica de engenharia genética, transferir essa característica para outras plantas. Não é difícil imaginar o impacto disso para combater a fome mundial. Já imaginaram que fantástico ter cereais como o milho, trigo e arroz ou frutas sobrevivendo em regiões secas e áridas? Estou convencida que nem aqueles que são contra as plantas transgênicas poderão se opor .
Ingrid Scheffer foi escolhida a melhor cientista da Ásia e Região Pacífica
A doutora Scheffer, uma neurologista pediátrica, foi selecionada por suas importantes descobertas na epilepsia, um mal que atinge mais de 50 milhões de pessoas no mundo. Elas podem ter origem genética, ambiental (resultantes de um trauma) ou mais frequentemente serem causadas por um mecanismo multifatorial, isto é, a interação entre genes e ambiente. Em colaboração com outros pesquisadores, a doutora Ingrid identificou vários genes novos que causam epilepsia. Descobriu que algumas formas são causadas por alteração no transporte de sódio. Suas descobertas estão abrindo caminhos importantes para novas estratégias terapêuticas.
Frances Mary ASHCROFT, do Reino Unido, foi a ganhadora da Europa
Essa cientista foi escolhida por suas contribuições fundamentais nas pesquisas em diabetes, principalmente uma forma grave de diabetes neonatal. A doutora Ashcroft descobriu como a glucose estimula a secreção de insulina e porque esse mecanismo não funciona na forma neonatal de diabetes. O fantástico é que a partir dessa descoberta ela conseguiu um novo tratamento para as crianças afetadas. Ao invés de múltiplas injeções de insulina por dia, elas passaram a tratar-se com uma a duas pílulas diariamente. Para quem, como eu, tem como objetivo transformar a pesquisa básica em tratamento não pode haver nada de mais gratificante. Trata-se do maior prêmio almejado por nós, cientistas.
Susana López Charretón, da Cidade do México, foi escolhida como a melhor cientista da América Latina
A doutora Susana estuda mecanismos de infecção por vírus, principalmente um específico, o rotavirus, responsável pela diarreia, que mata milhões de crianças principalmente nos países subdesenvolvidos. Estima-se que ele é a causa de morte de 600.000 crianças por ano e de patologias graves em outras 2 milhões. A pesquisa dessa cientista tem contribuído para desvendar os mecanismos que esses vírus usam para infectar as células e multiplicar-se rapidamente. Entender essas interações é o primeiro passo para interromper o processo e prevenir assim a ocorrência dessas infecções. A importância dessa pesquisa, principalmente nos países pobres é indiscutível.
Bonnie Bassler , foi eleita a melhor cientista da América do Norte
Essa pesquisadora, que descobriu como as bactérias se comunicam, possui ela própria o dom da comunicação. E com muito humor. Convenceu-nos a todos que as bactérias podem ser criaturas fantásticas. Quando falamos desses minúsculos seres lembramos sempre daquelas patogênicas, que causam doenças. Esquecemos que muitas delas são benéficas, como as do nosso intestino. Para começo de conversa, temos 10 vezes mais bactérias que convivem dentro ou ao redor do nosso corpo do que células. Dito assim, podemos concluir que somos só 10% humanos, salienta a doutora Bassler. O que essa cientista descobriu é que as bactérias não conseguem atuar sozinhas. Elas precisam agir em grupo. Elas sabem disso (às vezes até melhor do que nós) e para conseguir seus objetivos comunicam-se entre elas- através de uma linguagem química. E é essa foi justamente a grande descoberta de Bassler. Descobrir e entender como as bactérias se comunicam permitirá atuar nas duas frentes: aprimorar a comunicação das bactérias úteis ao homem e interromper “a conversa” das patogênicas. Uma pesquisa que promete.
Parabéns a essas cinco mulheres
Conhecê-las de perto, ouvi-las, compartilhar seu entusiasmo e paixão pela pesquisa e pela ciência é uma emoção que se renova a cada premiação. Um dos grandes objetivos desse prêmio é motivar jovens a serem cientistas. Posso garantir que é uma aventura fascinante.