Remédios personalizados: o futuro já começou? - Mayana Zatz (VEJA)
(Foto: Creatas/Thinkstock)
A famosa Clinica Mayo, em Rochester nos Estados Unidos, acaba de anunciar que está iniciando um projeto muito ambicioso. Vai armazenar os dados do genoma dos pacientes junto com suas fichas médicas. Essas informações genômicas serão futuramente utilizadas pelos médicos antes de receitar remédios. Estima-se que temos cerca de 23.000 genes que determinam nossas características hereditárias. Mutações ou alterações nesses genes são responsáveis por doenças genéticas. Mas, além disso, variações nos nossos genes que podem passar desapercebidas a vida inteira podem ter um papel fundamental na nossa resposta a drogas. É a farmacogenômica, que irá revolucionar a prática atual de prescrições de drogas.
Ainda está em fase de pesquisas
A iniciativa, que ainda está em fase experimental, tem como objetivo a utilização da informação genética de cada paciente para identificar aqueles que irão beneficiar-se com o uso de determinadas drogas ou que poderão responder melhor a outras alternativas. O uso de testes genéticos para avaliar a resposta a drogas específicas já está sendo implementado para algumas medicações, mas em geral eles são usados quando o paciente não responde a remédios convencionais ou apresenta reações adversas. O que se pretende com essa coleta de dados é ter um perfil genético do paciente antes de prescrever qualquer tratamento.
Genes associados ao metabolismo de drogas
Já foram identificados perto de 100 genes que governam como o nosso corpo metaboliza as drogas conhecidas. Entretanto, com o avanço das pesquisas genéticas e a descoberta de novos medicamentos, a tendência é identificar novos genes associados à resposta a remédios. Uma informação fundamental é a velocidade com que cada indivíduo metaboliza uma determinada medicação. Se for um metabolizador rápido, terá que tomar doses maiores porque a droga é rapidamente eliminada do organismo. Se, ao contrário, for um metabolizador lento, a droga poderá acumular-se no corpo e provocar reações adversas. Os metabolizadores lentos precisam de doses menores ou talvez nem possam tomar aquele remédio. Espera-se que o avanço da farmacogenômica elimine aqueles temidos efeitos colaterais escritos em letras minúsculas nas bulas dos medicamentos.
O genoma todo ou genes que metabolizam drogas?
O projeto da clínica Mayo ajudará também a decidir se é necessário armazenar todos os dados do genoma ou somente os genes associados à resposta a drogas de cada paciente. Para tirar isso a limpo, um grupo de voluntários terá seu genoma todo seqüenciado, isto é, os cerca de 23.000 genes que determinam nossas características hereditárias enquanto um segundo grupo terá identificados somente os genes associados a respostas a drogas. Os dados dos dois grupos ficarão nas fichas médicas dos pacientes e serão utilizados quando houver necessidade. Os dois grupos serão então comparados em relação à eficiência do tratamento em relação ao custo do procedimento. Os pacientes que terão seu genoma todo sequenciado também discutirão com os geneticistas que informações eles querem ter. Por exemplo, vale a pena saber se há um risco aumentado para doenças ainda sem tratamento como a doença de Alzheimer? Já discuti isso em colunas anteriores. Eu não quero saber, mas talvez outras pessoas queiram.
A genética revolucionando a medicina
Não é preciso dizer que será um projeto a longo prazo, e cuja resposta dependerá de milhares de pacientes. Mas certamente a farmacogenômica irá revolucionar a medicina atual. Para os pessimistas que afirmaram que o seqüenciamento do genoma humano não trouxe nenhuma aplicação médica, é importante saber que a genética do futuro está começando.
Por Mayana Zatz
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